A vida tinha para nós a lassidão da noite
Conhecíamos todos os recantos por onde a noite se infiltrava
Igrejas abandonadas ..sebes de jardins e estrelas...
Bebíamos vinho francês nas gares
E o pintor...boémio e sem abrigo...sentava-se na mesa e desenhava...
Cabeças de cavalo...Cristos crucificados...
Que vendia a meninas encantadas pela coroa de espinhos
Comíamos pollo nas calles...de mãos vazias...
Cheias de óleo... que depois de aquecido passava de mão em mão...
Éramos jovens...pouco adoráveis...bichos...
Excessivos porque sabíamos que no dia seguinte
Algum camião simpático...nos levaria a lado nenhum...
As cidades eram todas iguais...só as noites diferiam...
A vida era para nós a lassidão dessas noites escancaradas...
E a rua... encharcada de mistérios molhados pela chuva da primavera....
Era uma fábula sem pesadelos...