Abandonos...
Lembraremos sempre o começo obsessivo da floração das amendoeiras
Lembraremos sempre as abelhas empoleiradas nas flores côr-de-rosa
Teremos sempre o riso feliz de uma idade inapagada...
Seremos sempre essa idade sem fim...esse selo de mel e galho quebrado
Um dia hei-de trazer-te o sossego mais profundo...o mais insensato
Encontrarás então a marca de um rosto assomando por detrás das pedras
Poderemos então falar dos sentimentos que se imobilizaram em nós
Das coisas que despontaram nas flores dos narcisos
Das palavras que encontrámos nos caminhos pedregosos...
Tiraremos a humidade viscosa das horas que estalam no peito
Como uma afronta...ou como uma tela pintada por pássaros loucos
Que se perderam nas sílabas assustadas dos sonhos...
Vagabundos de contos de fadas...profundos...quebrados...
Abandonados...