Absorção
A tarde. O silêncio nos olhos. O brilho nas memórias. Na ponta do cérebro cintilava a existência de um desinteresse. Era a inércia do cérebro a acompanhar a abstracção do homem. Tudo se movia em roda de si. A vida. A curiosidade que despontava nos pensamentos despidos de utilidade. Viver. Vogar. Boiar na pele do dia. Sentou-se num banco de pedra...como quem nada tem a dizer de si. As pessoas passavam. Assimétricas. Como se existissem na imaginação de um fantasma. Ou numa vaga invisibilidade que perpassava pela luz. A luz. O cheiro das ruas. O impenetrável sentido do nada. O impermanente sangue da vida a fluir. A aquecer o sangue. Ergueu-se enquanto o sol se enrugava nas sombras. Respirava. Sonhava. Era agora o exímio dono das suas pálpebras...cerradas. Na alma desenhou-se uma revelação. O descanso de uma paz periclitante. A absorção do mundo. Respirou fundo. Fez uma festa a um cão que passava. E percebeu que o corpo é a moeda com que se paga a vida.