Adormecemos
A ti te falarei das praias e da luz rasa dos penedos
A ti te falarei das sombras cruas e gestos gastos do meus medos
A ti confiarei o meu silêncio nu
Enquanto o rasto de um verso estala no teu caminho
Direi o teu nome como se me agitasse o vento
Habitarei os teus olhos
Como quem visita a cúpula lisa do encanto
Guardarei para ti a minha última respiração
Como uma brisa que colhe flores que caem dos teus cabelos
Um dia seremos o espaço antigo e calcário
Muro de amor a cruzar o frenesim dos invernos
Seremos o retrato das coisas secretas
Em frente teremos o bafo branco do silêncio
E o brilho nítido de um fantasma em cada janela
Porque na imóvel noite
Adormecemos.