Adormeço..
Adormeço...como se riscasse de mim o frio dos dias
Escrevo..entre o espaço que invento e o pássaro que me sobrevoa
Invento...quimeras...deuses e destinos
E penso...na consumição de um tempo arrancado ao pântano
Sei que os vermes habitam na voz esfaimada dos silêncios
Era bom que dos labirintos se erguessem almas e rostos
Que dos corpos saíssem risos de borboletas em casulo
Relógios de ponteiros oblíquos traçam rotas em vidas sem vida
Do espaçoso horizonte erguem-se as asas atónitas de um tempo que não floriu
A morte é uma cidade velha...a vida um campo proibido
Fica a seda do inverno a camuflar os nossos passos
Fica o correr da água que desliza pelos cristais húmidos das flores
Na penumbra desenhamos repetidas ansiedades
Na chama...queimamos a lama que cobre as horas
Sem tempo...sem cidades...sem relógios
Assim os esvaímos...