Agosto
Habitava em nós a fome de um tempo
Não havia limites para a tarde inscrita na perturbação do vento
Era uma tarde imensa
Onde as emoções se fechavam junto às flores das hortênsias
Em nós vivia a desfloração dos olhos...as pétalas das nossas mãos
Eram um lago cheio de uma luz inesquecível
Era agosto..e o calor abria-se à inacessibilidade dos dias
Era como se um raio de luz nascesse na profundidade de nós
Como se houvesse uma incandescência vulcânica a assombrar o véu que nos cobria
E se déssemos mais um passo...se ousássemos ser brilho..se ousássemos ser cristal
Jamais as sombras se ateariam nos nossos rostos
Seríamos festa prometida... a seta de alabastro que silva na brancura da tarde
Seríamos o toque ameno das camélias...
Seríamos o instante divino...forte...como a imensidão de uma chuva cálida
Que nos molha a verdade de sermos... passado...