Água rasa...
Falta-me a manhã que se empoleira na árvore. Falta-me a doçura de uma eternidade. Falta-me a hora e a majestade de uma dor. E falta-me desfazer-me em espuma... enquanto escuto o vasto lamento do amor. Ser eu mais um dia. Construir mais um dúbio sinónimo de um dia. Sentir o insignificante suicídio de um dia. Subir a tormenta que me assoma. Sentir um desabafo em cada estrela. Atirar uma pedra à sucessão das estações. Insultar tudo o que me pesa. E jamais...jamais necessitar de passaporte...para te amar.
Sentir uma mínima dor. Atravessar a luz. Desfazer o meu equívoco. Matar a claridade e sobreviver ao gélido plasma do medo. Ser sólido como um relógio sem tempo. Ser o templo onde tudo se resolve. Um templo sem mistério nem lembrança. Afável. Nunca esquecer as pedras e as pegadas. Descobrir nos séculos velhas confissões de estradas. E saber que não há sagração na morte. Mas que há...apenas...uma água rasa e calma...onde nos abandonamos...