Amanhecia...e vi a luz correr aflita em contramão
Na hora mais nocturna...soturna...algures num magnífico areal...
Juntei todo o espaço sem esforço...
Garças negras esvoaçavam...enganadas pelas marés do temporal.
E ofuscadas pelo sal que escorria....das falésias caprichosas ...
Pediram-me para me juntar aos seus ecos e à grandeza dos maiores...prantos...
Então... fiz música da realidade anónima...discorri sobre os enganos...
Achei reais os sustos e o futuro...jantei algas daninhas...
Sorvi o cálice embaraçado...mudo... por aquele momento
Da harmonia fiz consolo e da simplicidade grandeza
O sangue antigo disse-me que queria ver ao longe...a vida perplexa
As nuvens entraram em mim como um futuro inexplicável
Desapareci...rodando naquele eixo...perto da vida...
Eu era canto...banco...janela...luz e sombra...sobras de reclusão
Quis mostrar o meu cérebro inventado...infinito...fixo como um olhar...
Quis sobrevoar a serenidade...a solidão...e todos os pontos cardeais
Pousei o meu corpo na monotonia...sagaz...como um dia sereno...
Despi as mentiras que me cobriam...inventei a verdade...
Andei de trás para diante...como uma alma em desassossego
Convalesci pacientemente da indignidade...alarguei o meu território...
Aprendi que o tempo é longo...e o amor...duas solidões...
Amanhecia...e vi a luz correr aflita em contramão
Vinha cariada...preocupada....tinha perdido um raiozinho pelo caminho
Ele...tinha desaparecido nas sombras da montanha...levado por ventos
Juntei-me a ela...e fomos procurá-lo..