Amnésia...
Carregamos a nossa condenação como quem persegue uma imitação da vida. Ela é a maravilhosa caução que nos faz caminhar. É o nosso corredor e o nosso insulto. Ela é a curva onde vislumbramos uma afável esperança. E é a corda que nos enforca e a escada que nos faz subir. Perturbadores sonhos acordam a nossa profunda amnésia. Limitados mundos acordam em nós. Salve-se quem puder. Salve-se quem souber. Porque vivemos fechados numa vida infértil. Numa amargura infértil. Num absoluto infértil. Um peso de chumbo cobre a nossa esperança. Obesas vozes ecoam em nós. Era bom que o cavalo-de-pau da nossa infância não se tivesse partido. Era bom que a ordem secular do mundo não culminasse em lágrimas secas. E os nossos corpos não se dissolvessem em fragmentos de riso.
E um dia dizemos nunca mais. E um dia renascemos na vigília do sangue. E no outro adormecemos no regaço de uma noite irradiante. E um dia estamos cansados. E no outro corremos atrás de alguém que partiu. E dizemos nunca mais. E dizemos que nunca mais nos vamos repetir. Que vamos ser outros. Que vamos estar inteiros. Aqui!