Aos amigos que não esqueço...
Já sabemos tão pouco uns dos outros. Já nos perdemos tanto dentro de nós. Resta-nos o tempo que passámos juntos. Resta-nos a agonia de não nos vermos mais. E restam-nos as proezas que fizémos e as alegrias que tivémos. Sabemos que não é possível recomeçar. Já não podemos pegar nas noites e nas fogueiras e reinventar um só desses momentos. Agora...possivelmente...jantamos em varandas sobre o mar. Perdendo o nosso olhar em horizontes implacáveis. Agora...voláteis risos espreitam na nossa penumbra. Dissipada toda a possibilidade de os renovarmos. Sentamo-nos em subtis desejos de silêncio. E também já não queremos voltar atrás. Sentimos que a nostalgia nos faz bem.Que nos ajuda a viver. Ah! A nostalgia. Esse tecido fino que nos cobre a alma. Esse fresco na nossa pele. Essa cerzida claridade que se propaga em todas as nossas direcções. As nossas reflexões são densos frios a evoluir num áspero desejo. Sentimos que há um enigma na distância. Sentimos que tudo foi um ar que se rarefez. E que a nossa ausência também pode ser um encontro. Com as nossas memórias. Com a sufocação dos dias. Com o enigma da absoluta vitalidade das coisas que vivemos. E sobretudo...com a dissolução da realidade. Porque quando estamos ausentes. Porque quando os outros estão ausentes. Alcançamos a infinita paz de saber que ainda temos lembranças. Que ainda ouvimos na vasta noite o crepitar das vozes. Que tudo o que vivemos tendo sido tão real...toca os limites da irrealidade.