Apenas me comove o silêncio
Ardo num incêndio
Que me embriaga os dias tumultuosos
Ardo naquelas labaredas de côr
Que me saúdam como irmãs
Porque me perdi nos campos solenes
E com ímpetos exaltados
Ergo os olhos aos céus
E vejo campos imensos e escuros
Sem solenidade.
Perdi-me num tempo
Em que desconhecia o tempo
Perdi-me nas horas que pensava serem infinitas
Saudei o abismo...enfrentei o breu
Com toda a exaltação da juventude.
Agora...
Banhado nas águas que o orvalho não quer
Carrego na lapela a flor épica
Do delírio e da desilusão
Não sou mais o cavaleiro
Que caiu do sol sobre um mar manso
Não sou mais o passante
Que recebe o tributo ansioso de um corpo ao luar
Nem a testemunha comovida
Do teu corpo solene e ansioso
Hoje apenas me entrego ao silêncio
Apenas me comove o silêncio
Apenas me embriaga o silêncio
Apenas reluz em mim o silêncio
Porque a vida me cobriu
Com a manta esfarrapada do esquecimento
E das minha mãos febris
Apenas sai a noite.
Como se fosse um tributo ansioso
Ao sol que tarda em brilhar
Como se fosse
Um misterioso pensamento desencantado
Pelas vagas que sopram sobre o que resta de mim
Pelas emoções que crescem sobre a minha pele
E que ao fim do dia apenas se comovem
Com a despedida tremenda de um esplendor
Que se extingue lentamente
Com o canto do rouxinol
Esforço-me por adormecer
Nos braços amados da solidão....