Apenas quero deslizar pela recordação do dia em que me sentei contigo na paisagem...
Pergunto pela luz que sopra da terra orvalhada
E pelo ar que se eleva do asfalto onde se escondem os recantos da memória
Vejo rostos empilhados como sentenças a crepitar nas luzes..sílfides fantasmagóricas
Ligeiros perfumes que fogem dos sótãos quentes...na rua as árvores apodrecem...
Sorrisos salgados abrasam os rostos..insectos em pose brincam nas folhas amarelecidas
Nem sei se é possível escutar o vento...ou conhecer a dor de um pássaro tardio
Tropeço na fantasia de uma esquina sombria...de uma sombra quente...a tua sombra...
Escuto o crepitar de marés onde o teu corpo se afogou...também eu me afoguei...
Também eu senti a tua pele no perfume das flores...soube então de ti...
E também soube que não iria atrás de ti...que te sumirias como uma folha sem sentido
Sem rota nem música...uma folha presa na garganta...embriagada de dor...
Recuso fazer qualquer gesto...recuso sentar-me na beira mar...quero esquecer as conchas
Apenas quero deslizar pela recordação do dia em que me sentei contigo na paisagem...
E nos fomos absorvendo...como quem bebe a beleza do entardecer...