Apesar de tudo
Apesar de tudo ainda sinto o vento a tossir o perfume da terra
Ainda me espanto com geometria de um céu empíreo
Ainda descanso os olhos nas arestas de um jardim com cio
O tempo...essa turbulência que se grava nas paredes dos girassóis
Tem a enormidade de um coração que lambe as feridas das cidades
Mas tu... és como uma planta... ou um mês... ou um olhar ferido pelo reflexo do espelho
Apesar de tudo cresces muito para além de mim
Vejo-te como uma transparência que arde no frio dos dias
Como uma polpa que transpira o suco de uma praia deserta
Noto que os oceanos embalam sonolentas memórias
Que o medo estremece na difusividade da areia
Que na tua tundra se derrama o meu amor de cometa ferido
Como um obscuro gemido de passado sem rumo...