Aquilo que sempre existiu...
Num dos capítulos do livro O FIO DA NAVALHA, Somerset Maugham fala da história (verdadeira) de um ministro de um dos estados da Índia. Este homem que estudara em Oxford. Que se vestia à europeia. Culto. Político hábil e ministro eficiente, decidiu que ao fazer 50 anos se demitiria do governo. Dividiria a sua fortuna pela mulher e filhos e iria correr o mundo como mendigo errante. A diferença entre o pensamento oriental e o ocidental é que lá todos achavam normal aquele procedimento. Cá todos lhe chamariam louco.
Todos procuramos o propósito da vida. Todos procuramos o seu significado. Os orientais valorizam a vida do espírito. Os ocidentais valorizam os bens. O dinheiro. A posição social. Há uma diferença enorme entre acreditar em algo e ter uma opinião sobre algo. Os ocidentais apenas têm uma opinião sobre tudo o que na verdade desconhecem. Os orientais acreditam na reencarnação É este crer em algo que lhes faz dar pouco valor aos bens materiais. Eles acreditam na meditação para atingirem os mais profundos segredos da alma. Os ocidentais apenas acreditam no dinheiro.
Pode haver um propósito na vida? Claro que sim! Pode-se viver com pouco como mostrou o ministro indiano? Claro que sim! Contudo teríamos que abandonar a mentalidade ocidental. Teríamos que perceber que os bens são apenas uma prisão. Teríamos que perceber que não há maior bem que a nossa liberdade. Ainda que tenhamos que viver com pouco dinheiro.
No livro, Larry, um americano com bens, inspirado no ministro indiano,ao voltar da Índia resolve doá-los e ir trabalhar numa garagem como mecânico e diz a Somerset que nunca se sentiu tão livre.
Acabo com uma citação do livro “ a individualidade é a expressão do nosso egoísmo, enquanto a alma não se libertar disso não poderá unificar-se com o Absoluto. E o que é o Absoluto? Não sabemos, É aquilo que não está em parte alguma, e está em toda a parte. É aquilo que nunca começou nem nunca acaba. É aquilo que sempre existiu".