Arrepio.
Moro numa espessa camada de tempo
Ato-me à imensa fantasia da noite...
Quando estava triste...de mim pendia um doce sonho
Partir para os recantos mais remotos...e soltar um agudo grito de liberdade
Hoje...não preciso do grito...tenho o frio do inverno por companhia
Hoje...já sei o que sinto...e nada me soa a passado...
Hoje...sento-me ao meu lado...
E vejo como tudo mudou.
Falar de mim é o mesmo que dizer que a mim me falto
É o mesmo que nascer numa pintura de Dali
É o mesmo que vogar numa onda desconhecida
E sentir que estou mesmo...ali...
Hoje de manhã juro que vi a orla do tempo a passar
E que nesta neblina feita de barcos e vidraças
Mesmo lá por detrás...
Estava a velhice a acenar...
E o mar...esse mediterrâneo insaciável
Esperava...sempre... ver-me passar.
Mergulho na luz do fim da tarde
Como quem levanta os olhos para o espanto
Fissura de mim...catedral de paz...
Onde está essa tela que adivinho ver
Onde está o rosto que adivinho ser...
Teu...
Há uma tragédia em cada pássaro
Há uma deriva em cada retrato
Há uma terra calma..em cada alma
E uma hora branca em cada frio
E dentro de mim um...arrepio.