As casas...
A noite. O cosmos. Ballet de gestos perdidos. Abat-jour de estrelas gasosas a impregnar os olhos com a beleza de uma outra noite...esquecida.
Sonhar...com a vida. Sonhar com esse esplêndido milagre que não alcançamos. Perder as palavras. Compreender o tempo. Alcandorar a alma como se a jogasse ao espelho da paciência.
Enquanto a chama bruxuleia... penso na estranheza de um mundo onde a fala afasta as pessoas. Penso nas pedras, nas planícies. Penso em todas as coisas inanimadas e penso também no silêncio de um fragmento de vidro que se banha de sol e pode até incendiar uma vida.
É tudo tão estranho e tão simples. O vácuo deforma-nos as vozes. A lonjura deforma-nos os sentimentos. E uma noite...olhos pousados na felpa do céu, ouvindo o sussurro do mundo. Entreabrimos a pele. Filtramos as estrelas. Suspiramos com a opaca maresia. E rasgamos a carne com a certeza de que as medusas nos escutarão.
Há um silêncio espasmódico em cada voz. Um segundo que se perde na casca de cada árvore. Um fogo que se apaga em cada gesto de adeus. E uma boca de velho a entoar árias de paciência...perdida.
E as casas... onde as vidas se equilibram em tripés de solidão. E as casas... onde as chaves da saudade soçobram ao tempo arenoso da infância. E as casas...essas obras de vidas inválidas a escoar-se por corredores onde ninguém passa. E as casas...onde os sonhos se enterram em litanias de velas...apagadas.