As contas do nosso rosário
Prolonga-se a noite numa espiral de fumo
Tudo podemos ser
Quando as grades não tapam o céu
E podemos adormecer debaixo das sebes sonolentas
Sem perguntar à alma qual o caminho para as horas fundas.
Foge da vidraça
Não sejas a mosca tonta
Que vê a vida através do vidro...quebra-a...
Não percas tempo com mágoas
Procurando mágoas...bebendo mágoas...
Confusos como rostos inclinados
Desejando assistir à nossa comédia
Questionando as trevas...os sons
As vozes claras dos cantos divinos
Não reparamos nas árvores mestres da vida
Ali estão pendurados os nossos sonhos invisíveis
Somos nós...
As ramarias açoitadas pelo sopro luminoso que as beija
Somos nós...
Feitos de impalpáveis recordações
Querendo à força conhecer o futuro...que é só um
Acalmemos o corpo
Deixemos as sombras povoarem as nossas harmonias
Sintamos o aroma delicioso que veste os cabelos suaves
Bebamos as fugidias promessas de uma felicidade inebriante
Derramemos os desesperos pelo chão áspero
Rastejemos sobre os insípidos dias
Ao som cordato dos violinos
Vivamos...vivamos...vivamos...
E... no fim...
Gastos como rosários manuseados vezes sem conta
Sentiremos um frémito que nos sobressaltará
E como que beijados pela música inebriante do ocaso
Encontraremos a Vida!