As flores encantadas
Vagueio rodeando a periferia dos sentidos
Projeto uma sombra inútil
Nego-me a dizer que a verdade é uma conquista
Ou algo que uma ave papagueia
Não há fórmulas para vestir um corpo nu
Nem prazeres que o coração não sinta
Cada silêncio tem a sua pureza
A sua verdade...o seu ângulo
Cada paixão tem sempre uma porta
Um absoluto...uma conquista
Cada realidade é uma enorme incerteza
Uma negação...uma tenaz
Uma tenaz que nos leva a mover o corpo
Em direcção ao sentir...
Privados...
Somos corpos privados de nós
Mas de coração aberto
E crivado de dores
Intimamente cheiramos a sal
Salgados...somos salgados e irreais
Sensíveis...também
Mas de uma sensibilidade
Que não pára de perguntar
Se a pureza é crua
Se faz mal aos olhos
Se é uma nesga nas nossas rugas...
Os cheiros entram-nos pelas vidraças
Nas noites brancas...
A vigília torna os suspiros raros
Como se nos despíssemos da solidão
O sol levanta-nos de acordo com a sua lei.
E nós encosta-mo-nos às paredes
Para equilibrar o corpo
Para não fazer sombra
E como marginais
Pisamos as flores encantadas
Que sempre nos esperaram nos jardins...