As horas do anoitecer
Chegou o tempo dos ventos agrestes...dos olhares fixos...das luzes fosforescentes
O tempo em que a morte conta histórias e as vagas se extinguem num abandono escuro
Cantamos o que nos asfixia... apenas nos sai um fio de voz...
Procuramos um caminho...menos escuro
E nós existimos no fundo dessa vida onde nadamos...nesse respirar alucinado
Nesse contar de dias em que imensos olhos se ausentam de nós
Asfixiamos...queremos que a vigília parta com as vagas...rostos pintados perdem a cor
Nas paredes pendem quadros incompletos...auto-retratos de um tempo inexistente...
Já não tememos a chuva...a poeira acompanha-nos...somos o caminho e a praia
E se esquecêssemos todos os rostos que caminham sobre tempos sem rosto
Se amortalhássemos o céu numa colcha de seda vermelha...
Seríamos possivelmente outros astros...vibrando numa outra solidão
Que o doloroso navio parta sem nós...pouco importa...os rostos ausentaram-se
Nós somos a sua ausência...e somos o jardim que cultivamos numa aura submersa
Profunda...onde tudo acontece...e onde a chuva molha as horas do anoitecer!