As mães...
As mães cegas a fingir que não vêem
As mães com gestos de trapos e olhos de ternura
As mães que choram sobre as nossas calamidades
E arrancam crostas do fundo do coração
As mães que se sentam em frente aos constrangimentos
E disfarçam o sono que lhes esvai as noites
Como se fossem vagabundas do amor
E vassalas dos dias que as exterminam
As mães que decifram ausências
E transbordam nos caminhos com pés descalços
As mães que nos vestiram
E com mãos postas em nadas rezaram por nós
As mães que ficaram presas em rugas
E com orgulho cósmico nos taparam as noites
As mães vestidas com pequenas virtudes
Que nos fecham as plasmáticas portas do medo
E nos emprestam o seu silêncio compreensivo
Quando o vento nos empurra para o vórtice do desconhecido
E nós desaparecemos numa íntima vertigem
Fechados...vorazmente consumidos pelo nosso medo
E pelos nossos olhos fechados
As mães que vivem emparedadas na sua abnegação
E na nossa aflição
As mães resignadas e desesperadamente cósmicas
As mães esculpidas por marteladas de ansiedade
As mães que esperam que a noite se abra na porta da rua
Por onde o filho entra
E consigo traga o sol na ponta dos dedos
Para lhe oferecer...