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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

As nossas solidões

Eu era um clandestino imobilizado sobre um instante sem duração

Talvez me sentisse um desejo

Ou um sorriso que se desmorona sobre a cidade

Talvez o meu tempo fosse pouco

Talvez o tempo fosse um brinquedo que a areia tapa

Talvez eu pudesse explicar todo o medo que me percorre os lábios

Se os meus braços não agonizassem sob um sol cego

Talvez te levasse a descobrir lentamente

Todos os espasmos que me percorriam o corpo

Talvez te explicasse que as aves assobiam ruidosos perfumes

E que as noites são corpos sem fundamento

Que fugiram do fumo opiáceo dos poetas

Toco-te ao de leve? Sentes-me?

Descobre as minhas mãos no teu pescoço

Posso ser o assassino que te estrangula

Com noturnos ardores que te percorrem

Tens as tuas vestes ausentes

És a essência dos corpos tatuados a fitar jardins.

Onde esvoaçam cidades que se esvaziam em luzes laminadas

E ausentes como um eco sem substância

E ausentes seguimos segregando trevas do interior dos nossos corpos

Vendo o nosso filme vestido

Com ensanguentados roupões de cetim negro

Debruçados sobre o sangue da primeira vez

Sobre a paralisia que nos cospe os ossos

Sobre a penumbra vermelha

De uma rendilhada bruma feita de arestas extenuadas

Até agonizarmos dentro duma nítida pétala de quartzo.

Que orbita por cima de todas as nossas solidões.

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