As pétalas caídas não deixam saudades
Quem não quer aliviar o ser carrego
De vozes que se fazem raras?
Quem não quer ver esvaziar-se
A luz sobre uma lenta rua deserta?
Sabemos que os reflexos se agitam nas folhas das árvores
E que uma lâmpada apagada é um vazio de luz
E também sabemos
Que as pétalas caídas não deixam saudades
Imóveis ruídos nos olham
Debaixo de um sol ardente...imensurado
E nas escadas profundas dormem bocados de dia
Aliviados da nossa carga
Olhamos os cães que atravessam os espelhos partidos
Insensíveis ao olhar de quem nada vê
Somos bocados de mesas
De camas...de facas e de garfos
Riscamos o porto de abrigo
Com unhas inundadas de horizontes luzidios
E ardem-nos os olhos
Presos em cadências de prata
Somos um enorme barulho universal
Impulsos surdos...corações desordenados
Burros de carga que miam
Como gatos que lançam queixumes floridos
Lâmpadas alcoólicas
Que se arrastam como cascos de navios
Mas...dentro do nosso sono
Nasce lentamente uma rara flor... secreta
Como se fosse um silêncio queimado pelo sol...