Asas de tempo
Amanhã não sei o que farei
Talvez desate em mim o tempo
Talvez abafe em mim o tempo
Talvez corra em direcção a nada
Talvez guarde um poema na gaveta.
Alguém me diz que devia mudar...reconstruir-me
Como se uma pessoa fosse uma casa...
Em cada compartimento um sentimento...
Uma frase...um quadro...uma angústia
Em cada canto um segredo...uma aspiração
Amanhã...talvez seja um sóbrio cidadão
A observar o mundo com olhos irrequietos
Como se estivesse dentro de uma solidão
Como se a claridade das ruas
Fosse a minha companhia secreta
Talvez passe junto a alguém que me conhece
Porque somos iguais...mas não sabemos...
Por isso somos desconhecidos
Se eu coubesse dentro de mim..
Escolheria um tronco de árvore...só para mim
E se chovesse...talvez me abrigasse por dentro das palavras
Como quem discorre sobre ideias descomunais
Amanhã..sei que tenho a tristeza garantida...
Sei que posso ser a voz que se cruza com outras vozes
E isso me basta...