Breves notas musicais
A sujidade do tempo rola sobre os poros das palavras
Distantes corredores assombram os passos da paisagem
Nada se distingue na rispidez branca da manhã
O corpo...alimenta-se de frios e de sombras
Pedras despejam iodo sobre a maré vazia
E as portas extinguem-se num lento desmoronar
Rodopiam plátanos..afagam-se veias
O interior dos ossos sacode o cansaço
Mas porquê este vulcão a existir?
Porque está fechada a fome de infância?
E fico-me a comer as fotos desfocadas dos dias
A beber a espuma..a rasgar a pele
E o medo da noite a zumbir num rodopio de andorinhas
E o cansaço a desfalecer com o crepúsculo
E o coração a enxamear a rua
Com incandescências de devassidão
E a longevidade dos fogos
E a lua rente à pele
E o amargo sabor dos receios
Minúsculos torrões de prata cobrem a nossa voz
Descalços passeamos as sílabas
Breves notas musicais aquecem-nos
E tudo se extingue numa sombra inacabada.