Breviários
Breviário I
E como se tivesse subido a um tempo feliz e inocente
toquei com a ponta dos olhos no mar...
Breviário II
Infinito... o sol beija o meu corpo abandonado à brisa
as horas correm no canto das aves
e o tempo pára dentro da minha alma.
Breviário III
Espero que a madrugada se erga por detrás das colinas
vejo o vento que empresta a sua força às vagas
e sei que tenho um dia inteiro para caminhar pelo sonho adentro.
Breviário IV
O nosso presente é sempre o fantasma do nosso futuro...é um entrelaçar de dias e emoções... que culminarão no dia em que a nossa luz se apague...
Breviário V
Os passos que conheço são vestígios imaginários das ruas da cidade inexistente...
por isso os meus olhos se colam à sedução de um destino inesperado...
Breviário VI
Cintilante o vento fingia que trazia em si a imagem das palavras
Ao longe as vagas no oceano rugiam...
E fulgurantes pensamentos atravessavam as minhas mãos destapadas
Como se fossem rostos que por mim subiam.
Breviário VII
Vive em mim a espera de um passado errante
Divido os dias para além de mim
E tu és o êxtase..
O vento que fustiga a alma com uma dor cantante
Um amuleto que uso sem nada possuir
E em vão persisto em ficar aqui.
Breviário VIII
Um barco saltou pela minha janela..ancorou na planície para além da maresia
O seu rumo eram outras terras...outro escoar de manhãs
Um chão pequeno que o ouvisse...uma pele sem remorsos
Mas a aurora encontrou-se com o lodo...e o rio ficou feliz.
Breviário IX
Deixei para trás as coisas que me devoravam...agora o tempo amansou
Mas continuo a tactear os dias..
Como um adolescente deitado sob árvores frondosas.
Breviário X
Era o fogo da cegueira a erguer-se...nostálgico
Eram imagens que devoravam o tempo do esquecimento
Vestígios de memórias encravadas em nós
A erguerem-se do mais profundo sopro do nosso peito.
Perdidas...como a lisura dos espaços desertos.
Breviário XI
Nada nos separa das pedras...
Porque do promontório vê-se a distância onde o nosso olhar se encanta.