A seiva do vento
Pela porta do quarto entram os silêncios
Sinto-me como um chão onde crescem palavras
O espanto desprende-se de cada sílaba
E é maior que a rua...onde o pranto nasce.
Em toda a parte há velozes aves
Voando em círculos de sombra sobre a terra
Planam sobre os destroços da cada dia
Sonhando com luas longínquas e mortiças.
E se no olhar planar o vento e o cansaço
Se em cada pedaço da minha pele a tua boca respirar
Então...pousarei nessa invisível trave
Onde nascem os estilhaços secretos do mundo.
Concentrar na pele toda a seiva do vento
Arrepiar a claridade dos excessos
Tocar na loucura com quem ilumina a madrugada
E beber...a ferocidade nua das palavras.
Descer sobre a mansa noite como quem lá não está
Andar descalço no tropel das dunas
Sossegar esse fogo inescrutável
Que me afaga o grito...e se ergue como um lobo
Que uiva...dobrado aos caprichos da vida!