Caule partido
Horas de incerteza...incríveis rios...profundos horizontes
A profundidade das luzes a derramar-se no cálice do mar
Há nos dias cinzentos...
Um enorme delírio de olhos perseguindo a sombra dos ciprestes
Há nesses dias...
Uma profundidade escondida nos minutos
Que se desdobram pela secura das tardes
Fecho os olhos...
Vejo incríveis lugares onde repousa a serenidade muda dos prados
E é lá que amanhece...
É lá que tu me esperas nesse lugar onde crepita a mansidão da planície
Será delírio ou existe mesmo um lugar onde eu possa renascer?
Será delírio ou existe mesmo esse lugar...
Onde a alma se transforma em ave solta no bravio do céu?
Hoje lembrei-me dos dias...
Em que os teus cabelos se deitavam nas concavidades da areia
Desses dias onde a chuva descansava na tua boca...e na minha...
Dias onde se fundia a nossa vontade de sermos ar e sangue mineral
De nos perpetuarmos na febre que amanhecia junto a nós...
Como um aroma de alfazema que se extraviou....
E agora se agarra desesperadamente ao nosso corpo
Mas já nada existe...já não sentimos a fome de nós a devassar-nos o corpo
Nem sentimos a sede de um sono a deslizar pelos nossos dias
O luar esvaziou-se de nós...
A chuva perdeu-se na profundidade dos mares
Somos agora um mineral...
Completamente solto a escorrer pelas encostas escarpadas da saudade
Ou um caule partido...
Que voga no calor de um corpo arrefecido...