Chama apagada
Olhou os dias...até que o céu se escondeu na sua alma.
Chamavam por ele os segredos escondidos do mundo...
Mas tinha adormecido...
Percorreu a sua estrada...
Mais como um fim do que como uma viagem.
Não tinha olhos para o medo
Escutava os silêncios da vida
Num charco de penumbra descobria a ilusão
De estar vivo...
E havia um mundo em volta de si
A lembrar-lhe de quão curtos são os dias
Tinha ainda todos os segredos para descobrir
E todas as silvas
Lhe falavam das amoras doces da primavera.
Sabia que há um rio para além deste rio
Onde os pássaros...esquecidos de si
Acordam os cardos floridos.
Percorreu este chão de hortências
Onde a eternidade da beleza supera a morte
E o medo de ontem...sugere novos dias...novas vontades..
De poder ser tudo o que é possível.
Tem agora todas as sombras para descansar
E todo o tojo do inverno...para sentir...
A árdua ilusão do que foi Viver.
Olhou de frente...a vida...sem medo de se perder
Depois...descobriu que ninguém se perde
Apenas percorre outros caminhos
Como se se erguesse numa estrada inflamada de luz
E a vida se arrojasse aos seus pés
A pedir-lhe desculpa
De ter cravado em si a desilusão
Da chama que se apaga.
Para o Raul que faleceu em 18/fevereiro/2022