Chegará o silêncio
Vi um tempo amargo em cada esquina
Um reluzir de sinais a engendrar vazios
Conheço os tempos insaciáveis
As rimas dos exilados e as serpentes
Agarro-me às luminosas paisagens
De repente parece que as minhas chamas se apagam
As utopias que arderam num torvelinho
São apenas esqueletos de ideais
Procuro a lógica da harmonia
O caos do corpo...o desapego das solidões
Que eu me arraste
Que eu beba as inversões das fotografias
Que torça as rimas
E que a semântica se evapore
Das águas nascerão as mãos convulsas
A delicadeza das falas maternas
E do agitar das ruínas
Nascerão vagas ferrugentas
Blocos de pedra em decomposição
É possível que algum dia as sombras se dilatem
Que as Hidras se afoguem
E que o Oráculos de Delfos se engane
Chegará o silêncio
As folhas tecerão tapetes dourados
E uma rosa será o centro do mundo
De todos os destroços
Talvez se erga um Deus desconhecido
E um soturno piar de coruja
Será a chave que abre a noite encardida
Nada restará da desordem dos átomos
O vento retardará o aroma dos sentidos
Nada chegará ao fim...tudo será princípio
Talvez vejamos o zénite da alegria
A descer numa nave de sombras
E na selva escura se revoltem as luzes das estrelas
Desagrega-se a alma
Fuzilam-se as palavras
E o que resta...
É a beleza das constelações aflitas
Por não verem homens.