Ciclos de vida
No fim de nós o começo dos dias. No baloiço do mar o adornar dos medos. O escuro amordaça a noite. O escuro amordaça os olhos de quem parte. Cheguei ao cais e senti a ausência dos barcos. Sobre o pontão esperei a vertigem do meu consolo. Consolei-me. Vi como poderia encontrar a pedra que esborracha a noite. Essa pedra rija e útil. Essa pedra que sustenta o cais. O nosso cais. Todos temos esse cais onde os sorrisos despontam. Onde os dia escorrem pelas nossas maravilhadas esperanças. Cada dia de vida é um consolo. Uma pintura. Um fogo. Cada dia de vida é a destruição da opacidade do amanhã. É a ruína enigmática dos nossos naufrágios. Tenho todo o tempo para me sentar perante mim. Tenho todo o poder para me levantar e sair. Tenho os olhos da morte em cada inutilidade. Tenho uma vela acesa. Ilumino o último naufrago. Respondo por mim e pelo incêndio das tardes. Sento-me como se fosse uma pedra. Ou um animal selvagem. A beber o meu ciclo de vida. Intacta.