Coluna de sábado - A banana
Olá! Sou banana colada numa parede.Estou à venda, não sei se eu própria ou a ideia. A Sotheby’s diz que me vende a quem provar ter pelo menos um milhão de dólares para me comprar. Já fui comida noutros tempos, (duas vezes) não eu, mas duas outras irmãs, uma delas, tinha sido comprada por 120 mil dólares. Dizem também que o tipo que me colou na parede revolucionou o valor da arte contemporânea e provocou o debate entre os críticos da mesma. Na verdade fico pasmada com a notoriedade que alcancei. Até tenho certificado de autenticidade. Já andei por Londres, Paris, Milão, Dubai, Tóquio e Los Angeles e agora espero que me comprem antes que apodreça. Chamam-me "Comedian" e apareci pela primeira vez em 2019, e tive um grande impacto “na consciência cultural contemporânea”. É normal, as pessoas gostam de bananas, usam-nas até para vários fins sem ser a alimentação. Mas o que me preocupa é como é que vão levar a parede onde me colaram. Sim, eu não posso ser afixada em qualquer parede. E também fico preocupada se me deixam sozinha e algum vândalo me vem grafitar. Espero que o Maurizio( que foi o gajo que me colou à parede) não tenha outra ideia, e invente algo verdadeiramente real que leve as pessoas a debater a saúde mental dos críticos de arte. Seria certamente um debate interessante, em vez de se debater a pobreza e a fome no mundo, o aquecimento global, a distribuição de riqueza, (coisas insignificantes), que se debata a teoria da banana, que um genial artista afixou na parede. Ou a sanidade mental de (não sei quem) críticos? artistas?cultura do vazio? contemporâneos.
P.S. - Informo que afinal fui arrematada por 6 milhões de dólares. Quem me comprou foi um magnata chinês que nunca tinha comido bananas coladas na parede com fita-cola.