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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

O sacristão

A Lolinha Araújo quase ninguém lhe chama dona Lolinha, a verdade é que o único que lhe respeita o tratamento é o Bartolomeu , sacristão da paróquia de Santa Lucília, na praça do Lagar, que é muito atrevidote e quando anda a passear põe ao pescoço um lenço de seda de cor verde com desenhos de flores, tem outro amarelo mas só o exibe quando vai dar uma volta pela praça de Maria Pita, Bartolomeu  Calvário parece um playboy, agora os sacristãos não são como os de antes, agora lêem revistas de amor e fazem palavras cruzadas; o Bartolomeu bebe o vinho da missa e o azeita das lamparinas, também come hóstias por consagrar, é claro, molha-as no chocolate, e masturba-se cruelmente, parece um cão lulu, no confessionário do fundo, o primeiro à esquerda quando se vem da rua, eu vi-o mais de uma vez a incensar as partes com tabaco de cachimbo, com aromático tabaco holandês, e meio asfixiado com tudo muito fechado, esse é um mau costume que lhe pode custar a vida, que Deus o salve!,  às vezes ia lá só para o ver, não era difícil porque estava sempre muito ensimesmado, muito na sua tarefa, dava-me grande coragem vê-lo, zás, zás, como se o tempo se lhe acabasse para sempre.

Créditos - Camilo José Cela - a Cruz de Santo André - (adaptado)

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