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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Como um bote que parte

Há toda essa espécie de passado

A ferir-nos a lucidez inabalável dos dias

Há todo esse sentir que o destino

É uma assombrosa aventura da consciência

De que nos serve todo o Universo a dispersar-se no nosso sangue?

De que nos serve descobrir

A flecha distendida pela mão do futuro?

De que vales...de que águas...

De que ânsias se fazem os contentamentos do mundo?

Olho a rua...

E vejo candeeiros que se acendem para a noite exorbitante de olhares

E penso …

De que verdes se fazem as árvores no escuro nocturno?

Que silêncios ecoam nos coágulos brancos das memórias?

Sabemos que o mundo é uma garra

Que se ergue na penumbra ansiosa dos remorsos

Sabemos que o cerne da Morte

Reside no inabalável clarão da Vida

Sabemos que a brancura da espuma

Vem das profundezas do céu

E que os olhos voam

Tal como as aves se sentam nos bancos das nuvens

Mas o Mundo...

Essa extensão de vales e de passados

Essa ansiedade exposta

Aos vendavais que se erguem das aflições

Essas almas...quase vida..quase nada..quase tudo

Espalham-se nos prados

Ecoam nas lezírias

Sobem até ao último cansaço dos corpos

E há trovoadas...há impressões...

Há cheiros a cinza..compactos..fluidos...verdadeiros

E as copas das árvores dançam na loucura dos quartos

A alegria é uma recta oblíqua e fantástica

A empurrar o céu para dentro de nós

A estalar na manhã das neblinas ofuscantes

A empurrar-nos para dentro do além

Como um bote que parte sem velas nem vento.

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