Conto de Natal#1 - A indiferença
Faltava pouco para o Natal, e as pessoas corriam atarefadas a comprar os presentes de última hora. Numa esquina, esquecida por todos os que passavam, uma velha mulher esforçava-se por cantar uma antiga canção adequada à quadra. Junto a ela estava o seu cão. Fiel companheiro de noites de invernia. As pessoas passavam, de vez em quando alguma deixava cair uma moeda no prato colocado no chão. A tarde avançava, o número de pessoas diminuíam na rua. Cada uma voltava para o quente dos seus lares. Iriam consoar. Abrir os presentes. Rir de felicidade. Lá fora, a velha mulher percorria as ruas agora solitárias. Voltava ao seu casebre de telha vã. O cão seguia com ela de orelhas caídas. O animal parecia perceber a desolação da dona. E quando tudo parecia que se ia passar como nos outros natais, um estranho apareceu naquela rua deserta, levava consigo vários embrulhos, alguns continham acepipes para a ceia de Natal. A velha despertou-lhe a atenção. O cão abanou a cauda com simpatia, mas o homem seguiu o seu destino. Segurou ainda com mais força a embalagem onde levava a ceia. Sim! Aquele homem sabia que a partilha não tem de ser feita só com os conhecidos, e que de facto é muito mais gratificante fazê-lo com quem não sabemos quem é, só que ele estava atrasado para a consoada e afinal não lhe interessava saber quem era a velha...há tanta gente sem nada,( e ele não era propriamente um benfeitor) que mais uma velha vegetando na pobreza, não faz grande diferença. Isto nem ele sequer chegou a pensar, com a pressa que levava em se afastar da velhota e chegar a casa.