Cordão umbilical
Abre-se o cordão que nos ata à luz atarefada da manhã
Oníricas veias abrem-se ao leme dos tempos esquecidos
Os ventos recortam-se por dentro das memórias
As janelas abrem-se para as feridas do peito
Agarramos na espuma que ondula no niilismo das horas
Cortamos a direito por dentro da maresia
E crescemos... medramos... na insensatez que nos encanta
E vogamos dentro de um beijo terno que nos mata o fogo
Os deuses abusaram de nós... o dia aparece de repente
Vem adormecer a nossa indiferença que mastiga o medo
Na penumbra a nossa boca cresce... o olfacto torna-se um segredo
Os dedos abrigam-se dentro de outras mãos
Somos crianças acesas... a imitar velas acesas...
Abertos à indecisão de sermos fel e peso e barco
Aqui e ali misturamo-nos com a errância das ruas
Esperamos a vinda das flores que agonizaram no inverno
Embarcamos na chuva... na tumba... no amadurecer dos desertos
Cobrimos a cara com soluços de arestas nuas
Vulcão e pele de eternas lutas... esperamos milagres de vulcões solícitos
Que estúpida é a dor do vento que se disfarça de leme e mar
Iluminando a escura porta que se abre para a nossa solidão.