Credor do tempo.
Há estranhas vozes que ecoam nas letras
É estranho o espaço da insónia
A glória das janelas abertas
A velocidade do grito
A visão da fúria dos desertos
As coisas que não ousamos e as que usamos.
Aposto que conheces o interior do vento
Aposto que conheces a gravidade da vida
Aposto que sabes que o olhar das emoções
Se mostra no final das lágrimas
E que o cair da noite dilata as perpectivas.
É tão bom beber o suco da vida
Quebrar o sonho da ave
Pertencer apenas às palavras
Cismar com elas
Permanecer no princípio do querer
Andar a mil há hora num temeroso rasto de cometa
Que desliza pelo corrimão das escadas.
Sabes quantas lágrimas cabem dentro das horas?
E quantos sonhos invadem a sede?
E que falar de amor é acabar com o cansaço do infinito?
Sim...eu sei que sabes
Sei que tens os lábios secos
Sei que ainda não entraste na imobilidade do silêncio
Sei que ainda não derramaste o teu tempo
Pelas frestas inventadas das flores
Sei que já foste ao cimo dos choros
E que fingiste deslizar pela alucinação das sílabas
E que como uma janela entreaberta ao cair da noite
Fingiste ser o credor do tempo.