Cromática sombra...
Nasci num incandescente rio...
Peixe sentado no ventre da Mãe...
Gota de escuro...corpo soletrado...
Sotaque de bosque que devora as sombras
Sou a voz que se separa do sangue...
Como uma gota de areia sentada numa flor seca
Visto-me com o tamanho das palavras...
Dobro-me sobre uma viagem sem destino...dor e ventre
Enrolados numa enorme alma que tomba sobre os últimos raios de sol...
Vejo o sangue correr...
Escuto o medo a tombar de dentro de mim...como uma folha seca...
Choro de estrela viúva...
Alecrim criado num tempo leve e calado...aromático..
Cromática sombra de cedro despido...
A imitar um viajante sem tecto...
*
Na secura da alma devorada...
Ergo-me...ergo-me como um presente desperdiçado...
Sei que os céus me protegem...
E não me importo com o que irá sobrar dos meus magros dias...
Sou o voo de um pássaro sentado numa réstia de sonho...
Como um bicho que devora a solidão
Levanto os olhos e vejo mil sóis...todos me esperam...
Escoando a sua luz no meu caminho...
Alumiando as minhas impurezas...
Como uma água feita por anjos que nasceram só para mim!