De mim e do frio
Que sei eu de mim e do frio das esporas
Que sei eu das coisas que se arrastam nas horas
Que sei eu das fogueiras e dos poços sem fundo
Que sei eu das foices que cortam o mundo?
Que me interessa o gelo que quebra os pinhais
Que me interessa o mistério das coisas mortais
Que me interessa a areia e o céu estrelado
Se a vida me sabe a um beijo gelado!
E o tempo e o vento pousados nas casas
E a solidão da joaninha que perdeu as asas
E o ímpeto do frio a rasgar as pétalas
Do meu corpo sonâmbulo que esqueceu as metas.
Sinto um arrepio a esconder-se em mim
E uma unha de lágrima a cair sem fim...
Mas um dia farto de anjos e cometas
Expludo numa festa de facas e arestas...
E corto a direito esta solidão
Corto-a em postas e espalho-as no chão.