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folhasdeluar

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De que te queixas?

De que te queixas? Não é tua a estrada? Não é teu o raio de luz? Feliz de ti que possuis o rio e o grito. Que possuis a margem e o reflexo. E afundas o próprio riso no feitiço das florestas.

De que te queixas? Se um deus chora por ti. Se um perdão cai dos céus. Se a Vida te roça a alma. E se bebes dela como de um seio sagrado.

De que te queixas? Se das tuas profundezas se ergue a tua fúria. Se no teu esquecimento os dias se tornam semelhantes a infâncias. E se  és capaz de enfunar as tuas próprias velas.

De que te queixas? Se da tua imortalidade nada sentes. Se da tua boca sai a tua sentença. Se por ti velam todos os martírios.

De que te queixas? Se dos escombros tu te ergues. Se deambulas por cidades e por fantasmas. Se te acendes com o teu próprio fogo.

De que te queixas? Se em todos os lados nasces. Se todos os lados em ti nascem. Se não tens fronteiras nem desejos de as ter.

De que te queixas? Se tens um nome e uma rua. Um vinho e uma injustiça. E bebes pela invencível taça de Dionísio. E toda a tua sede de não ser nada...é mais que um sacrilégio ...é a tua vida. É o lastro da sombra esquecida. É a frescura de um sono sagrado. E é também a melodia de uma brisa que te lembra...que o dia acaba e o tempo fica.