Dentro de mim
Atravesso o amargo sabor dos séculos
Atravesso o tempo
Como se flutuasse numa seiva gratuita
Agarro o coração...meço a distância
E salto através das letras
Que confluem para o meu inóspito medo
Embrenho-me em palavras
E através da contaminação dos ecos
Assombro as línguas estupefactas
Copio o sabor acre dos sítios que esqueci
Guardo os sonhos em crateras lunares
Sou a incoerente face do fogo
Sou a morada das coisas que não farei
Recito versos...atravesso pontes inacabadas
Consolo-me com o que não sei
Experimento palavras que repousam por aí
Palavras de todas as cores
Verdes...podres...enfastiadas
E vêm ecos erguendo distâncias
E vêm salvas de íridio branco
Atómicas salvas flutuando no espaço dos dedos
E vêm flechas...e atónitos pontos cardeais
E dos confins dos olhos saem versos desmedidos
E o silêncio crepita
A mão ergue o facho...a chuva cresce
As páginas quebram-se de encontro aos palcos das tragédias
E já não há páginas
Já não há gaivotas a debicar o tempo
Já não há espaços em branco
Dentro de mim.