Desencontros
Sob árvores irreais
Frágeis sombras imprecisas
Penetram-me na imaginação
Dizem-me que somos insípidos...pálidos
Profundamente apagados...
E que transportamos o adiar da alma
Com prazer alucinado
Inocente...teatral
Como uma irrealidade conversadora
Coberta da flores vãs...
Os dias mudos...
São frágeis papéis encantados
Que uma candeia feita de silêncios alumia
Como se fosse uma lembrança
Composta por memórias pálidas
Sombras...
Sabemos que somos sombras
Sombras que adiam a vida
Com esperança de retardar a morte
Sombras que se apagam
Como últimos actos de uma peça sem sentido
Sombras requintadas...amigas de vida fácil
Feitas de tempo que voa nas asas da loucura
Porque é preciso regar o jardim esvoaçante
Que vive no espírito...alimentá-lo
Pegar nas flores e cheirá-las até ao cimo
Senti-las como amantes perfumadas
Requintadas...ricas de prazeres imaginados
Que assomam nas horas mais profundas
Sei que nenhuma angústia fará mudar o horizonte
Sei que nenhuma esperança fará acabar o mundo
Compreendo que um mastro sem vela não trará alegrias
E que a esperança é uma volúpia fechada num quart
Onde um piano mágico
Toca de olhos fechados
A ária triste do desencontro!