Dia do esquecimento
Olha-te aí sentado. Entregando-te aos espaços que ficam entre ti e os outros. Quem és tu. Estátua? Vitral? Que criança puxa a tua fralda da camisa? Amas! Entregas-te! Ressuscitas a cada desilusão. És aquele que vai partindo. Que vai cruzando o rio. És o indestrutível plural de ti próprio. Confessa. Gostas de poesia. Estás vivo. Desiludes os outros. Mas estás vivo. És um cometa de riso. Que farás com a tua pele quando ela se arrepiar? Que farás? Ficarás sentado a jogar às fábulas de amor? Sentirás aqueles que amas como um prolongamento de ti? Sentirás! Porque és corda. Nó de marinheiro. Fastio. Atarás os teus braços à cratera que existe em ti. Devolverás todos os sorrisos como quem já aqui não está. Agudo é o frio que te tira a razão. Raso é o muro que te divide dos outros. Senta-te. Espera. Sente o perigo. A vida sem morte é um seixo sem praia para o arredondar. É uma rua desabitada. Um dia pisarás essa chapa com o teu nome gravado. Nesse mesmo dia...serás esquecido.