Dias inacabados
Cheguei à vida imaginando que o meu tempo era infinito
Que os meus pés que pisavam a areia
E se molhavam no espelho das praias
Eram os cúmplices que eu precisava para a viagem
Que os reflexos dos navios amavam o infinito da gaivotas
E os solstícios que vagueavam rente às ondas
Eram a textura dos dias inacabados
E havia uma linha por onde a luz se escoava
Um apito de vento que caía sobre as ondas
Uma planície feita de sensações e chão carregado de sinais
Espero ainda que o mar me traga a página em branco
Que um bando de andorinhas-do-mar permaneça junto às falésias
Para eu ter a ilusão de ser feito de penas e asas
De voar pelos recantos
Onde o reflexo das palavras possua a geometria da solidão
E me explique os pressentimentos do tempo
A medida inodora do silêncio
A escala da alma perante o branco caiado das paredes
É tão longa a sombra da azinheira
É tão grande um rosto sem nome
Que entre medir o tempo e viver
Há um dislate de que se agarra aos corpos
Como um olhar que olha sempre em frente
E não vê vivalma...