Distâncias
Nos dias em que o dia se torna na nossa cela
E os minutos são pombas a voar sobre gestos bruscos
Nos dias em que as árvores morrem
Sobre as pedras febris..queimadas
Por um penoso sol que se derrama
Como insustentáveis flores brancas
Nesses dias sabemos que somos sempre o mesmo
Sabemos que não temos idade
E que temos todas as idades
Como uma pedra sem brilho
Ou um calor de rachar
Somos esse calor que vem do princípio de tudo
E que se derrama sobre nós de costa a costa
De brisa a brisa...
Como um pátio que se iluminasse
E do escuro nascêssemos
No planalto onde residem os nossos desejos
Febris e inconstantes
Como uma pele transparente e sonolenta
Ou imóveis como um mar parado sobre um chão desumano
Porque das nascentes de águas gritantes
Sai poeira que cobre o nosso corpo ansioso
Então..mergulhamos a pique
Nesse brilho triunfador...nesse silêncio imóvel
Nessa respiração abafada
Porque simplesmente já não sabemos respirar
Já somos o cabo sem esperança..boa ou má
Já somos como uma flauta sem orifícios
Com o som sufocado pela areia ofegante
Que nos cobre os olhos
Como se fôssemos simples danças azuis
Ou como se fôssemos uma geada de fogo
Atiçada pela crista das ondas
Que nos submergem em dóceis delírios
Em canduras de criança
Em abafados e esquivos amores
A que chamamos distâncias...