Dobra-se dentro de mim o cheiro dos dias
Dobra-se dentro de mim o cheiro dos dias em que dormias silenciosa
Deixaste os teus passos espalhados pelos recantos complexos do meu pensamento
O teu aroma era a vida...e nos olhos do chão...
Estava a cama onde desafogávamos as fragilidades do corpo
Ainda há um odor a vaguear pelas frinchas da casa
Ainda há uma caleira que pinga saudades de um tempo que não espera por nós
Na rua ainda sinto um rumor a falta de ti..como se o ar estivesse empestado pela tua ausência
E na fragilidade do espaço da minha memória...
O teu corpo adormecesse na flor que enfeitava a verdade que não existia
Sei...que em todo o lado estava o teu olhar
Sei...que as mais belas cores vagueavam pela tonalidade lenta das minhas mãos
Sei que estavas onde os meus braços estavam
E agora...visito a tua presença dentro de um caderno feito de espaços
Visito a tua vida nas lacunas brancas de onde nunca saíste
No futuro serei a incoerente memória de uma aventura sem limites
Serei a tese matemática da imperfeição de um tempo insalubre
Como se houvesse um desequilíbrio nas personagens que fomos
E que agora amontoamos ao canto do esquecimento
Como roupa despida por mãos invisíveis..e parcas...