Doirados sóis
Impossível serenidade que navegas comigo
És como um animal adormecido
Cobres as tuas asas com manhãs amargas
Demoradas flores que escavam rios
Queda e equilíbrio... suspensão alucinante
Em redor de nós os corpos ganham asas
Em ti pernoita a solidão...o suco das flores
A preciosa idade da insónia
És como uma acrópole transparente
Um líquido precioso...um demorado estar
Apenas estar...
Luto com os ventos
Agarro-me aos ecos
Mar sôfrego...ruas desertas
Lamento de gaivota serena
Até amanhã:- digo eu...
Despeço-me dos meus vestígios
Amanhã subirei até outra idade
Escavarei o teu ventre
Dinamitarei os teus vermes
Cuspirei sobre as ruas submersas
Abóbada que atravessa a noite...boca amarga
Povos de aço recortam-se na contra-luz
Vigiam a humidade dos olhos...negros olhos
Demoram-se os peixes nas nuvens de vapor
E as bocas escavam pedaços de lua
Comem escritas...bebem estrelas
Constroem tragédias
Até que os prados se levantem
Com a efervescência de doirados sóis
Lutaremos pelas rubras papoilas
Até sermos navegantes sagrados!