É fértil o olhar que não nos define
Hoje as aves visitaram o meu oásis
Falaram-me de magias e de cobras-de-água
Disseram-me que o peso dos rios desponta na pele da noite
Que peixes vermelhos se perpetuam no solário das ausências
E que de manhã visitaremos os bosques de escritas delicadas
Onde as palavras adquirem a nobreza das paisagens
É fértil o olhar que não nos define
Como também o são os dragões a irromper da irrealidade
O sol ensina o caminho aos frutos silvestres...mostra-lhes a beleza do néctar
Assim o tempo nos roa o veludo da voz interrompida por soluços
Partimos..e nas nossas mãos crescem dias demorados
Olhamos a fuga de tudo o que acumulámos na memória
Esquecemos o mágico feitiço dos pomares
Onde as laranjeiras se encantam pela delicada aranha
Teias feitas de lodo interrompem o nosso caminho
Perdemo-nos na milenar manhã das paisagens nacaradas
Somos agora o que já não somos...
Conhecemos os fragmentos dos nossos minutos
Mas nunca o ouro dos dias se derramará sobre a nossa pele despojada
Porque o ouro dos dias se perde nas paisagens que se tecem na argila fresca
Nesse barro que amassaremos na nossa fome de pedras preciosas
Meditando sobre o estará para lá das montanhas desconhecidas.