É melhor não falarmos
É melhor não falarmos do nosso cansaço.
Dos nossos risos amargos.
Da fotografia que não tirámos.
É melhor não falarmos das nossas visões.
Dos nossos perdões
Dos inúteis presságios.
É melhor não falarmos da nossa paz
Da jarra sobre a mesa
Da lareira apagada.
É melhor não falarmos das mãos trémulas
Dos sorrisos escuros
Das miragens mirabolantes dos dias.
É melhor não falarmos das coisas que se fixam na memória
Dos dias de chumbo
Da neblina de verão.
É melhor não falarmos do vento que inclina as flores
Do sopro que estremece o lago
Do avesso da chuva.
É melhor não falarmos das lágrimas faraónicas
Dos translúcidos olhares
Da diáfana aparição da morte.
É melhor não falarmos...
De nós!