E não chegaram a dar as mãos...
Tantos dias e tantos frios....aconchegados na lapela branda do cansaço
Tantas palavras ditas por acaso na mesa onde os lábios se perderam
Horas passadas a falar na inutilidade das coisas...a esquecer as coisas
Como se dizer olá fosse uma bofetada na face envergonhada da noite
Sorrir...e depois lentamente esconder-se por dentro dos olhos
Correr toda a tarde e toda a noite por cima das lágrimas que lá estavam...mas não se viam
Depois..era querer tudo como se fosse uma vingança...ou uma prece
Não há nada a fazer..todas as palavras se fecham por dentro dos minutos
Há um ferrolho a antecipar a noite..a dizer quero..a dizer não posso..a calar a alma
Como se fosse um castigo esparramado no chão inútil do desejo
As pessoas passam na nossa vida como se não fizessem ruído
Como se fossem pequenos pregos pontiagudos...alguns deixam uma marca deslavada
Mas entre perceber que havia um e havia outro..e que havia um dentro dos dois
E que os dois só ali estavam para ser um...passou um século..as luzes finaram-se...
E não chegaram a dar as mãos...