E passam ventos..e transpiram velas...
Abro a gaveta e dentro dela o lenço lavado fala-me de lágrimas
Saio para a rua..e vejo depositados no passeio os anos vergados pelas pedras
E passam ventos..e transpiram velas...e o sal queima a quilha dos barcos
E chegam nevoeiros... e caem indeterminadas chuvas..e as crianças sentem as frieiras
A pouco e pouco aconchega-se às casas o som dos búzios
Passa por elas e é como se fosse uma lenda antiga alumiando a fantasia das marés
E o que fica é apenas uma rua..onde ciciam passos solitários...
Lutos de lumes outrora incandescentes...mensagens exaustas de carregar filhos ao colo
Digo para mim que a chuva é cega...que molha os seios enrugados das ladainhas
Que lava as palavras...mesmo aquelas que saem do vapor da boca
Sento-me..dormito junto a um bando de estorninhos..vergo-me ao momento solene
Aquele em que as avós bordam arabescos no enxoval das netas...
Românticas..velhas...obscuras personagens carregadas de fantasia
Vivendo intermináveis vidas de silêncio..despertas como tochas...
Indispensáveis....